DELIRIO E REALIDADE (ELA COMO DEVERIA SER)


Quando estive triste, o sorriso dela foi luz do sol
E quando não havia música, ela foi canção em lá bemol

Quando meu coração parou, ela foi taquicardia
E quando eu anoiteci, ela foi dia

Quando eu era tempestade, ela era calmaria
E quando eu fui Sepultura, ela era Ana Carolina

Se eu desespero, ela respira
Mas se eu acalmo, ela grita

Quando fui Chapeuzinho, ela era a Bruxa
E quando me abriguei, ela queria banho de chuva

Quando amarguei, ela foi doce em calda
E quando quis fugir, ela disse “volta”

Se eu me desespero, ela me envolve
E se eu tinha insônia, ela dorme

E quando me perdi, ela foi o mapa para casa
E quando não havia mais futuro, ela tirou as cartas

Quando eu era novela das oito, ela foi um filme ganhador do Oscar
E quando pensei que estava sozinha, ela decidiu me amar

Quando deixei de voar, ela me deu asas
E se eu reclamo, choro, corro... Ela me abraça!

Não há para onde correr e eu nem queria, pois o melhor lugar do mundo está nas três covinhas daquela baixinha.

Aline Alves

SANGUESSUGA


Praga maldita
Sanguessuga!
Dos confins do inferno para dentro da minha casa.

Manipuladora e asquerosa
Um verme nojento que vive de sugar a energia alheia
Veio e se instalou, achou um hospedeiro e ficou
Dissimulada e com carinha de sonsa
A mim você não engana!

Corrompe, destrói e faz drama
E assim infelizmente afasta a mãe dos filhos
Cega, desestabiliza e destrói...
Você não se envergonha?
Não te pesa a consciência viajar tantos quilômetros para destruir o que restou de uma família?

Preciso de um orixá, um galho de arruda, bíblia, alcorão, benzedeira, passe espiritual ou muito sal grosso...
Qualquer crença que seja capaz de devolver algo ruim assim para onde veio.
Vá de reto!

Aline Alves

PAIS: SEUS FILHOS SOFREM!


Talvez o que eu esteja prestes a dizer aqui seja apenas um emaranhado de clichês e relatos que todos estão cansados de ver pela internet ou na TV.
Sei que diferente do que muitos acham, o relato que irá ser feitos nestas linhas não ameniza o que estou sentindo ou alivia o que tenho passado. Porém sei que algumas coisas precisam ser ditas para ajudar quem a muito tempo sofre calado.
Mães e pais de filhos homossexuais, entendam que seus filhos sofrem!
Seus filhos sofrem quando são crianças e não se sentem confortáveis com a roupa que vocês vestem neles. Mesmo porque menina tem que vestir rosa e menino azul!
Seus filhos sofrem quando vão pela primeira vez para a escola e são deixados de lado pelos coleguinhas por serem estranhos demais.
Seus filhos sofrem quando muito antes de começarem a pensar em sexualidade e afetividade já recebem apelidos pejorativos (viadinho, sapatão...). Na escola, nas brincadeiras na rua, na festa de família... Ele é sempre a piada.
Seus filhos sofrem quando começam a descobrir sua sexualidade e não conseguem entender porque são diferentes dos demais.
Seus filhos sofrem quando se sentem acuados e perdidos durante a puberdade e não podem conversar com vocês por medo.
Seus filhos sofrem quando finalmente começam a entender o que está acontecendo na cabeça deles e ao ter sua primeira experiência afetiva não podem contar ou conversar sobre isto dentro de casa.
Seus filhos sofrem quando começam a namorar e não podem levar seu parceiro em casa para um almoço de domingo ou para evitar uma guerra precisam inventar uma desculpa toda vez que vão sair, por saber qual seria a reação de vocês.
Seus filhos sofrem quando perdem um emprego ou muitas vezes nem chegam a passar em uma entrevista por serem como são.
Seus filhos sofrem quando são alvo de agressões morais e físicas na rua e não podem contar a verdade em casa.
Seus filhos sofrem quando a religião de vocês é base para taxar o quão errado, impuro e pecador ele é por ser algo que ele nunca escolheu ser.
Seus filhos sofrem por medo de assumir o que são e serem rejeitados, humilhados, agredidos e renegados pelos próprios pais e em muitos casos serem expulsos do lugar que sempre chamaram de lar.
Seus filhos sofrem por serem o que sempre foram desde que nasceram e por saberem que tudo foi uma escolha por “falta de vergonha na cara”.
Ninguém escolhe sofrer a vida toda por algo que acarreta uma batalha diária por respeito e aceitação. Ninguém escolhe desejar fisicamente algo que é irracional e incontrolável. Ninguém escolhe ser hostilizado e rejeitado pelos próprios pais.
Entendam que seus filhos já sofrem na escola, na rua, no local de trabalho... Não o façam sofrer ainda mais no local que deveria ser um porto seguro.
Seus filhos não escolheram ser homossexuais, não se escolhe tanto sofrimento. Então façam valer o sentimento que todos vivem enaltecendo, o amor de pai e mãe.
Se este amor é de fato o maior e mais forte, amem seus filhos da forma que eles são. O mundo já está encarregado de julga-los e culpa-los, sejam a luz que eles precisam.
Saibam que eles já se sentem culpados de mais por não serem o que vocês queriam, por não atingirem suas expectativas, por não serem heterossexuais já que é isso que parece ser certo e aceitável.
Os filhos de vocês são lindos como são e precisam apenas de diálogo e compreensão. E acreditem, quando vocês precisarem serão eles que irão estar ao lado de vocês, pois com tanto sofrimento eles aprenderam a amar de uma forma que muitos nunca saberão. Dizem por ai que filhos gays são os mais carinhosos e se vocês repararem bem, chegarão a mesma conclusão.
Portanto entendam, seus filhos sofrem e precisam de vocês!

Aline Alves

NO BANCO DOS RÉUS


Quanto vale um sorriso terno?
Vale o bastante para se viver entre o céu e o inferno?
E dentre tantas prioridades os juízes da vida deram como certo, apenas um veto
Tão incerto, disseram em tom perpétuo: “O mundo pertence aos expertos.”
E a única dúvida que fica é, onde fica o que pregaram certo?

E diante dos meus olhos montou-se um tribunal
Não havia de fato justiça, apenas o mundo real
Aquele vil tribunal que insiste nesse jogo desleal
E ai está sentença, condenada!
Sem razão, sem piedade e sem nenhum outro aval!

Olhavam condenando impiedosamente meus delírios
Como se tudo que passou diante de mim fosse só mais um empecilho
Apenas uma forma de ficar impune
Mas aquela irritante mania de bater os dedos na parede
Era tão repugnante quanto o fato de não conseguir olhar nos olhos do júri

O júri que mal ouvira o que eu havia dito
Que deu o veredicto!

E eu agonizando em meio às celas que se formaram ao meu redor
Não sabia ao certo dizer o que seria melhor
Me calei, rezei e marquei nas paredes cada dia
Eternizei em algum lugar do tempo toda aquela agonia
E o que se via? Eu nem sabia.
Alguém prevenia: “Na solidão não se deve fazer moradia”
Mas quem disse que eu ouvia?

E antes de uma morte fria naquela prisão perpétua
Vi nascer entrelaçado ao nevoeiro do banho de sol, um álibi
Na espreita, sem meias palavras ou setas
E quando pensei que a morte realmente viria, foi quando eu vivi

Do banco dos réus, passei a ser testemunha
Da verdade nua e crua
E ninguém mais tinha o direito de me condenar
Nem por sofrer e nem por amar
Sem o menor pudor voltei a respirar

Vi então no olhar dela que não há culpa nem dor
Não teria porque condenar seja lá pelo que for
Na calmaria, fui solta na estrada da vida
E sem pensar duas vezes avisei, estou de saída

Minha bagagem? É tudo aquilo que couber na memória
Meu destino? Qualquer lugar que não perca minha história
Minha companhia? Aquela que roubou minha sanidade sem ser pega
Que em um plano perfeito, me pegou de surpresa
Sem ninguém ver, me capturou como uma presa
E sem pressa, com toda minha incerteza
Levou-me pra longe do caos
Ou de qualquer outra cobrança desleal

Como ela pode cometer tal crime e não ser pega?
Eu por muito menos passei por um inferno de tristezas
E ela veio tirando de mim toda a frieza
Me levando pra mais perto das estrelas!

Aline Alves