"A cama...
Há alguns dias esse foi seu
refúgio, às vezes torna-se mais confortante para a alma se esconder do mundo.
Aqueles lindos olhos claros injustamente
se tornaram vermelhos, consequência dos caminhos que a vida tomou.
Eu fico de longe observando e
tentando entender o emaranhado de pensamentos que fluem de sua mente de uma
forma desordenada e continua.
As vezes é um pouco difícil pra
mim compreender como a mulher sensual consegue esconder uma menina tão frágil e
assustada, mas continuo encantada com as duas.
Sobre a mesa um amontoado de
remédios se perde entre as cinzas dos cigarros e os copos sujos de café... Cada
um encontra o vicio que lhe conforta, ela encontrou vários...
E com o humor oscilando
constantemente, ela encontra algumas horas de distração em frente ao
computador. Um refugio momentâneo que talvez tenha feito a diferença nos
últimos tempos.
A falta de alguém que se foi tem
consumido a pouca sanidade que ainda lhe resta. Entendo bem essa dor...
Cobranças terrenas, dores carnais,
perseguições espirituais...
E seu velho companheiro agora
empoeirado fica ali no canto do quarto, observando atentamente todo esse show
de horror e esperando o momento em que ela vai se levantar e tirar dele o que
nenhuma pessoa pode lhe dar, pois pessoas só podem oferecer palavras que chegam
ao máximo até o coração, mas os sons que ele pode proporcionar tocam a alma e
de alguma forma conseguem confortá-la!
E eu? Onde mesmo eu entro nisso
tudo? Pra dizer a verdade eu nem sei.
Eu vigio silenciosamente, protejo
de longe, me preocupo sem falar e vez ou outra tento interferir em seu destino
ou mudar a sua história. Sei que nunca será um conto de fadas, desses cheios de
fantasias, mas continuo tentando congelar a dor dela em mim.
Não sou muito, mas espero
calorosamente pelo dia em que em um abraço eu possa dizer o que palavra nenhuma
é capaz de falar."
Aline Alves