NÃO É UM CONTO DE FADAS


"A cama...
Há alguns dias esse foi seu refúgio, às vezes torna-se mais confortante para a alma se esconder do mundo.
Aqueles lindos olhos claros injustamente se tornaram vermelhos, consequência dos caminhos que a vida tomou.
Eu fico de longe observando e tentando entender o emaranhado de pensamentos que fluem de sua mente de uma forma desordenada e continua.
As vezes é um pouco difícil pra mim compreender como a mulher sensual consegue esconder uma menina tão frágil e assustada, mas continuo encantada com as duas.
Sobre a mesa um amontoado de remédios se perde entre as cinzas dos cigarros e os copos sujos de café... Cada um encontra o vicio que lhe conforta, ela encontrou vários...
E com o humor oscilando constantemente, ela encontra algumas horas de distração em frente ao computador. Um refugio momentâneo que talvez tenha feito a diferença nos últimos tempos.
A falta de alguém que se foi tem consumido a pouca sanidade que ainda lhe resta. Entendo bem essa dor...
Cobranças terrenas, dores carnais, perseguições espirituais...
E seu velho companheiro agora empoeirado fica ali no canto do quarto, observando atentamente todo esse show de horror e esperando o momento em que ela vai se levantar e tirar dele o que nenhuma pessoa pode lhe dar, pois pessoas só podem oferecer palavras que chegam ao máximo até o coração, mas os sons que ele pode proporcionar tocam a alma e de alguma forma conseguem confortá-la!
E eu? Onde mesmo eu entro nisso tudo? Pra dizer a verdade eu nem sei.
Eu vigio silenciosamente, protejo de longe, me preocupo sem falar e vez ou outra tento interferir em seu destino ou mudar a sua história. Sei que nunca será um conto de fadas, desses cheios de fantasias, mas continuo tentando congelar a dor dela em mim.
Não sou muito, mas espero calorosamente pelo dia em que em um abraço eu possa dizer o que palavra nenhuma é capaz de falar."
Aline Alves

VENENO


"Tão doce e perigoso, mal posso resistir.
Ela chega e me deixa um olhar que toma conta de mim.
E eu me limito a observar, me procurar naqueles olhos e entender aquele olhar.
Ela passa por mim como quem quer provocar, deixando mais que o perfume no ar.
Não consigo mais me focar em nada que esteja longe dela e ela parece saborear cada momento da minha espera.
Ela me olha, ela me vê e eu não consigo mais me esconder, tudo o que eu posso fazer é deixar o veneno escorrer.
Doce como o mel, sublime como um pedaço do céu.
As margens de um desejo que quer me dominar e ela fica ali fingindo não notar.
Vou até onde ela está, pois se tornou difícil controlar essa vontade incessante que sempre vem me instigar.
Ela morde os lábios e fixa seus olhos nos meus, passa suas mãos pelos meus cabelos e se aproxima...
Um sorriso de canto nasce em meus lábios, mas ela nem viu acontecer e agora o que eu posso fazer é deixar o veneno escorrer!
A poesia das palavras deixa de existir em momentos assim, não há o que falar quando se deve agir. Esperei por tanto tempo e agora desejos surreais e noites imaginárias já não me satisfazem.
Quando seus lábios tocam os meus a terra roda descompassada e ela domina tudo aquilo como se fosse só mais um detalhe de uma pintura tão complexa que só quem faz pode entender.
Dançarina do meu tango, escritora do meu livro, voz dos meus versos, protagonista dos meus sonhos...
E seu corpo se entrelaça no meu no ritmo mais perfeito feito por Deus e eu já não tento mais entender só deixo o veneno escorrer!"
Aline Alves


DEVANEIOS SOBRE MIM


"Eu não sou capaz de pensar além daquilo que está aqui.
A cada dia torna-se mais difícil controlar as vozes na minha cabeça!
Tantos gritos incessantes e perturbadores, tolos pedidos de socorro de uma alma que nunca teve paz.
Uma falta que não pode ser preenchida, vícios que não podem ser deixados, pessoas que não são capazes de entender.
Se não posso ser complacente com meus próprios problemas e medos, me torno uma rude sem compaixão com qualquer um!
Sou incapaz, me sinto bem menos do que costumava sentir e o que muda tudo isso escrever mais alguns devaneios sobre mim?"
Aline Alves

QUEM MAIS SOFREU



"O amor que eu via em teu olhar
As palavras que ouvia você pronunciar
Tudo que havia entre nós
Se desmanchando, virando pó

O tempo passou, tudo morreu
O nosso amor, você e eu
O nosso laço de desmanchou
Meu coração desmoronou

Você dexou isso acontecer
Palavras rudes te ouvi dizer
Ferindo minh'alma pra valer
Coisas que eu nunca vou esquecer

Enquanto eu lutava por nós dois
Eu me desfiz, fui menos eu
Você me deixava pra depois
Me diz então, quem mais sofreu?"
Thiago Lamas

ATÉ QUANDO?


"É como se você realmente tivesse morrido. Você voltou, mas é como se nunca tivesse retornado. São tantos problemas nas costas que você chega a andar curvado, mas se recusa a dividir-los. Tanta coisa você esconde, não partilha. E num belo dia eu acordo sozinho em casa... Até quando vou ser capaz de segurar sua indiferença, seu jeito ogro de ser? Até quando eu vou aguentar ficar sozinho toda vez que você se estressa? Tô cansado de brigar. E estou pensando a cada minuto... até quando?"
Thiago Lamas

O QUE TENHO, MAS NUNCA FOI MEU


"Muito mais difícil que conter uma lágrima é torná-la silenciosa ao ponto em que ninguém consiga notar que estou chorando.
Por muitas vezes me pergunto se eu tenho que pagar por não ser aquilo que idealizaram pra mim... Não sei, mas sei que dói de uma forma inexplicável.
Sinto falta de uma compreensão mínima, de um dialogo que até então foi inexistente, de um dia sem gritos, sem cobranças, sem brigas...
Sinto uma saudade enorme de alguém que eu tenho, mas que de fato nunca foi meu.
Meu Deus, por que eu não pude conhecer? Não pude tocar? Por que eu não pude nem olhar no fundo daqueles olhos verdes? Não há nem ao menos um tumulo para levar flores, para sentar e conversar na esperança que ele me ouça. Tudo o que eu tenho são algumas fotos e as histórias que me contaram.
Nada me tira do pensamento que se aquela maldita tarde, à 23 anos atrás, não tivesse existido, hoje tanta coisa ia ser menos pesada.
Existem tantos vazios dentro de mim que nem sei por qual choro nessa noite... Mas sei que um deles é grande de mais pra ser escondido.
Eu não sou forte, não mais.
Eu só queria conseguir jogar tudo pro ar e sumir pra onde o mundo seja apenas o chão sob meus pés e um caminho que me leve pra qualquer lugar onde eu possa o encontrar guardando o maior dos abraços que alguém poderia me dar!"
Aline Alves

CATACLISMO


"Vai ou me deixa seguir
Te afasta de vez pra longe daqui
Para que eu possa ficar perto de mim

Engula as palavras que nunca disse
Ou deixe eu me calar de vez
Feche seus olhos
Para que eu enxergue com nitidez

Viva a aceitação de si mesmo
E vá de encontro ao cataclismo
Caminhe entre essas pessoas
Embora ainda se sinta sozinho

Respire o ar que tirou de mim
E com ruinas de tudo isso
Vou construindo castelos
Em meio ao abismo

Nada melhor do que tentar sem se entregar
Seguir sem ainda sentir
Deixando de sobreviver, hoje volto a viver."
Aline Alves

QUE O INFINITO ME ABRACE


"Por entre as flores observo o último pôr-do-sol enquanto espero pelo que está do outro lado, essa é a hora de voltar para casa.
Sinto como se deixasse uma legião de cegos para trás e me perdesse em algo que um anjo definiu como paraíso.
Deito na relva e acompanho pacientemente todo aquele espetáculo e aguardo pelo que me espera.
Minha visão turva projeta a imagem dela sentada sob uma pedra que está quase se perdendo no horizonte, cantando uma doce canção de ninar para mim... Como aquela voz soa intensa e suave...
Não sei se fecho os olhos para sentir o momento ou se fixo o olhar na imagem dela, virou rotina não saber o que fazer em sua presença.
Talvez em algumas horas eu não precise mais me importar com o que falar, onde manter as mãos, como me portar ou o que ser quando estou com ela... Talvez eu não esteja com ela de novo.
Ao longe ela me pergunta:

- Moça por que esses olhos tão tristes se te reservei o céu mais lindo nesse fim de tarde?

Não sei o que responder, pois de fato o momento é realmente lindo de mais para se estar triste, mas de tantas coisas que já vivi a tristeza se tornou inerente a mim. Me limitei a sorrir.
Ela, porém insistiu:

- Este sorriso não me convence, você sabe! Conheço o mais intimo dos seus gestos e sei que esse sorriso foi apenas para esconder aquilo que você insiste em não me dizer. Vamos menina, por que suas mãos ainda tremem se em algumas horas nada vai te separar do infinito?

- Não sei, é estranho pensar em me livrar da vida que lutei para ter por anos.

- E por quantas vezes você foi recompensada com momentos felizes?

- Poucas...

- Então se acalme. Levante, me dê sua mão e respire fundo, pois se o mundo não soube ver quem você é, eu vou te levar ao lugar no qual você nunca mais irá precisar chorar.

Levantei-me, segurei firme em sua mão e caminhei em direção a escuridão que nascia aos poucos no horizonte. Por muito tempo procurei ser bem recebida pelo portão principal, mas com ela qualquer porta secreta se faz suficiente."
Aline Alves

OUÇA O SILÊNCIO...


"Sozinha...
Nem me lembro a última vez que fiquei fisicamente só, embora tenho estado assim espiritualmente e emocionalmente já há algum tempo.
Precisava disso. Consigo ouvir meus pensamentos claramente, sem gritos, sem desespero, sem dor, sem confusão...
É incrível como o tempo muda quem nós realmente somos e na nossa correria diária deixamos isso passar despercebido. Decidi aproveitar o silêncio da casa e me convidei a pensar sobre quem fui, quem sou e o que realmente ainda está em mim.
Quis me livrar de tanta coisa por tanto tempo e só agora percebi que eu estive tão acomodada a dor, que já não precisava do que a causava e ainda assim eu buscava de uma forma inexplicável e sem sentido por isso.
Talvez fosse só uma maneira de me esconder a minha necessidade de voltar a viver, ou talvez tenha sido um masoquismo consentido.
Revirei os velhos CDs e descobri novas emoções em velhas músicas que eu havia sepultado por medo de reacender algo que a muito já se apagou.
Vi o quanto precisava me livrar de velhos vícios que só tiveram seu lado bom na minha mente e apenas ali.
Percebi o quanto minhas palavras e minhas ações foram medíocres esse tempo todo e se eu sou aquilo que faço e penso, de fato eu também fui.
Quis justificar minha existência correndo atrás daquilo que nunca deveria ter entrado na minha vida e assim me escondi atrás de uma razão sem fundamento, de um amor sem compaixão, de uma luta sem objetivo, de uma guerra que nunca saiu do meu imaginário.
Vi que por muitas vezes fui extremamente infantil e mascarei isso da forma mais pobre que eu poderia, me sentindo a mais maduras das pessoas.
Não tenho receio de assumir meus erros...
No silêncio tudo é tão claro e assustador, mas já não me amedronta mais.
As pessoas temem a solidão, embora não saibam o quanto ela é importante para engrandecer quem somos. Estar sempre junto a alguém ou em meio a multidão nos faz vaidosos e incapazes de ver aquilo que está tão claro, porém  ignorado.
Escolhi ficar só, não por não haver ninguém, mas por saber que eu preciso disso. Que meu coração e minha mente precisam descansar para encontrarem o equilíbrio que foi perdido em alguma parte do meu passado.
Algumas pessoas pulam de um relacionamento em outro buscando preencher a falta que sentem de si mesmos e com isso acabam transformando o vazio que sentiam em um abismo sem fim. Geralmente pessoas assim nunca tiveram que lutar por algo na vida e o fato de terem tudo sem nenhum esforço, fez com que elas não soubessem dar valor ao que tem e se acomodassem esperando o acaso fazer por elas.
Alguns nasceram para amar, outros por não saberem o que realmente é isso buscam coisas passageiras (beleza, dinheiro, diversão...) e quando se dão conta da escolha que fizeram percebem que o tempo passou e que já não há mais tempo pra lamentar.
Não chorei, não me culpei, não sofri como pensei que sofreria, não me martirizei, não me afastei do mundo, mas escolhi buscar em mim aquilo que buscava nos outros e sei que quando eu encontrar não vou ser uma pessoa mais forte, mas serei alguém melhor do que sou.
Acho que o mundo deveria se calar mais e aprender que muitas vezes é no silêncio que encontramos as respostas que passamos a vida inteira buscando em palavras."
Aline Alves

POR AMAR VOCÊ



"Você bateu em minha porta outra vez
E eu te deixei entrar de novo
Como criança que não sabe o que fazer
Só tô buscando por socorro

Eu precisei da sua mão mais de uma vez
Me segurei na esperança
Mas não havia nada lá que me prendesse
Caí, não dá pra levantar

Eu não aprendo mesmo, mas por quê?
Eu vejo nos seus olhos, vou sofrer
Mas toda vez que você chega perto
Eu viro um bobo, um idiota completo

E sem pensar eu esqueço tudo
Que se dane o resto, acabe o mundo
Eu não aprendo mesmo e sei porquê
Eu não desisto por amar você..."
Thiago Lamas

MUITO SAL E DUAS GOTAS DE PIMENTA


"Amanheceu o dia, o relógio marca 6h.
Ela acorda com os olhos ainda inchados. Apenas uma consequência de mais uma noite difícil.
Ela se levanta, caminha vagarosamente até o banheiro enquanto tenta limpar sua mente, lava o rosto e se olha intensamente no espelho, como se quisesse ver onde se encontra a feriada que inquieta sua alma.
Volta ao quarto, aquele que foi palco de um espetáculo atormentador na noite passada.
Abre o armário e escolhe cuidadosamente a roupa mais colorida e alegre que tem, esse é apenas mais um de seus artifícios para acorrentar seus monstros.
Escolhe o salto mais alto que tem, pra provar a si mesma que ela está a cima de tudo aquilo que tenta a derrubar.
Volta ao espelho para arrumar o cabelo, joga de um lado para o outro para encontrar o melhor penteado. Ela costuma fazer isso na vida, se joga de um lugar a outro, de um grupo de pessoas para outro, tentando se encontrar.
Gasta alguns minutos se maquiando em um ritmo quase mecânico: Base, pó, rímel, delineador, blush, sombra, gloss, lápis... E como em um passe de mágica aquele rosto triste da lugar a uma beleza que estava escondida por trás de um semblante abatido. Diferente do que muitos estão pensando, essa não é uma máscara para esconder quem ela realmente é, muito menos uma armadura que abriga um ser frágil, aquela é a resposta que ela dá ao mundo, a forma que ela encontrou de mostrar que mesmo que o mundo a leve para trás, pela manhã sempre haverá uma garota renascida.
Por fim ela acrescenta a cereja que faltava para que o bolo estivesse completo, estampando um sorriso largo e reluzente em seu rosto, não que ele seja falso comparado a tudo o que ela viveu na noite que se passou, mas aquele sorriso é a maior prova que a força que ela trás dentro de si e imensurável.
A noite foi amarga sim, bem mais salgada do que costuma ser. Mas o dia será docemente apimentado, com o sabor que ela conhece tão bem.
Ela pega a bolsa, as chaves, abre a porta, encara o dia ensolarado e respira fundo. Acende um cigarro e caminha rumo a mais um dia... Forte, firme e sem transparecer aquilo que possivelmente voltará a noite.
Mas a noite... Isso já é outra história!"
Aline Alves

ENQUANTO VOCÊ DORMIA (SERÁ QUE FAÇO FALTA? - PT.2)



"Você me deixou, e voltou. Mas não me esperou pra dormir. E enquanto você dormia, eu te observava, pela casa andava, pensava e depois chorava. Seus olhos fechados escondiam o azul pelo qual me apaixonei e me deixava no escuro, sem saber como agir, me desorientou. Fiquei sem chão. Sem ar. Tantas vontades ao mesmo tempo. De ir embora, te abandonar. Te abraçar, apertar de saudade. Permaneço sem saber o que fazer... Será que eu realmente faço falta?"
Thiago Lamas

SERÁ QUE FAÇO FALTA?



"Não suporto sua felicidade
Tão longe, em outra cidade
Em outro estado, outro lugar
Onde eu não posso te tocar

E eu sinto tanto a sua falta...

Não aguento imaginar teu sorriso
Tão estrondoso, tão divino
Em outras companias que não a minha
Porque eu te dei a minha vida

Mas não pareço fazer falta...

Como uma sombra, você some
Na minha escuridão, não responde
Cinquenta ligações em vão
Milhares de lágrimas no chão

Sentindo tanto a sua falta...

Que desculpa te inocentaria?
Como eu viveria
Quando pensei que sua morte eu choraria
O resto da minha triste vida?

Será que eu faço falta?"
Thiago Lamas